domingo, 2 de outubro de 2011

Atingidos por barragens protestam em Abre Campo


Além dos acampados, muitas pessoas das comunidades
próximas participaram da manifestação
(Foto: Senisi Rocha)

Estiveram acampados, durante uma semana, na zona rural em Abre Campo, cerca de sessenta proprietários rurais atingidas pelas barragens de Emboque e Granada, representantes de comunidades próximas e integrantes de sindicatos e movimentos sociais. Entre os dias 20 e 27 de setembro, os manifestantes reivindicavam da empresa Brookfield, responsável pelas hidrelétricas no município, a resolução de vários problemas gerados pelas obras, erguidas há quinze anos.
Entre as principais reivindicações estão a construção de estação de tratamento de água e esgoto, de fossas sépticas, de pontes e recuperação de estradas e casas danificadas. Os manifestantes solicitam também alternativas de geração de emprego e renda permanentes, já que a economia na região foi afetada diretamente.

Diálogo

Funcionários do INCRA estiveram cadastrando os
acampados
(Foto: Senisi Rocha)
O protesto deu resultados e os acampados foram ouvidos. Antônio Fonseca – diretor de meio ambiente da Brookfield, esteve no local e conversou com os manifestantes. Ele não fez promessas, mas garantiu que as negociações vão continuar. Segundo Fonseca, os erros cometidos pelas antigas donas das barragens, a Brascan e Cataguases Leopoldina, não vão se repetir, o que deixou os mobilizadores mais confiantes. Participaram da assembleia quase duzentas pessoas interessadas no assunto. No meado do mês de outubro, ocorrerá um novo encontro para o avanço do diálogo e a formação de um grupo de trabalho que pretende rever a pauta de solicitações apresentada.
Segundo os organizadores da mobilização o principal objetivo da iniciativa foi atingido, que foi estabelecer uma comunicação com a empresa responsável pelas barragens. “A conversa com a empresa foi animadora, mas não devemos ficar iludidos com boa vontade. O que vai garantir as conquistas será o avanço da organização dos atingidos e a construção coletiva das lutas populares como este acampamento. Foi por causa do acampamento Silvio Ziquita que a empresa esteve aqui” – declarou Thiago Alves, um dos coordenadores do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens.

Sequelas

O proprietário Gualberto Clemente reclama a indenização
devida pelos transtornos provocados pela construção
da barragem em suas terras
(Foto: Senisi Rocha)
Em novembro de 2010, um relatório foi aprovado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ligado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, que constata a violação dos direitos humanos provocados com as obras das hidrelétricas.
O acampamento, denominado Silvio Ziquita, foi erguido às margens do lago de Emboque. Ele recebeu este nome em homenagem a um atingido pela barragem que se enforcou, segundo amigos e parentes, devido à intensa pressão da empresa para que ele abandonasse suas terras. Um memorial foi construído no acampamento para lembrar os inúmeros trabalhadores vítimas dos alagamentos.
O INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – esteve no acampamento, na tarde de terça-feira, 27, cadastrando as famílias que participavam do protesto e não possuem terra.
Nossa reportagem pode conhecer melhor a história do agricultor Gualberto Clemente Pereira, de 54 anos e pai de três filhos. Ele, que chegou a trabalhar na construção de uma das barragens, há uma década e meia, tenta receber uma indenização justa pelas terras alagadas. Muito emocionado, Gualberto contou que recebeu apenas cerca de um mil reais pela perda de suas terras, o mesmo que receberam seus nove irmãos. Além da parte mais produtiva da propriedade, sua casa também foi coberta pelas águas. Hoje, sustenta a família como diarista na redondeza. Os três filhos, por falta de opção de emprego, foram morar em Belo Horizonte.
Membros do acampamento às margens da barragem
(Foto: Senisi Rocha)
Com informações e imagens de Senisi Rocha

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