Atingidos por barragens protestam em Abre Campo
Além dos acampados, muitas pessoas das comunidades próximas participaram da manifestação (Foto: Senisi Rocha) |
Estiveram acampados, durante uma semana, na zona rural em
Abre Campo, cerca de sessenta proprietários rurais atingidas pelas barragens de
Emboque e Granada, representantes de comunidades próximas e integrantes de
sindicatos e movimentos sociais. Entre os dias 20 e 27 de setembro, os
manifestantes reivindicavam da empresa Brookfield, responsável pelas
hidrelétricas no município, a resolução de vários problemas gerados pelas
obras, erguidas há quinze anos.
Entre as principais reivindicações estão a construção de
estação de tratamento de água e esgoto, de fossas sépticas, de pontes e
recuperação de estradas e casas danificadas. Os manifestantes solicitam também
alternativas de geração de emprego e renda permanentes, já que a economia na
região foi afetada diretamente.
Diálogo
Funcionários do INCRA estiveram cadastrando os acampados (Foto: Senisi Rocha) |
O protesto deu resultados e os acampados foram ouvidos.
Antônio Fonseca – diretor de meio ambiente da Brookfield, esteve no local e
conversou com os manifestantes. Ele não fez promessas, mas garantiu que as
negociações vão continuar. Segundo Fonseca, os erros cometidos pelas antigas
donas das barragens, a Brascan e Cataguases Leopoldina, não vão se repetir, o
que deixou os mobilizadores mais confiantes. Participaram da assembleia quase
duzentas pessoas interessadas no assunto. No meado do mês de outubro, ocorrerá
um novo encontro para o avanço do diálogo e a formação de um grupo de trabalho
que pretende rever a pauta de solicitações apresentada.
Segundo os organizadores da mobilização o principal objetivo
da iniciativa foi atingido, que foi estabelecer uma comunicação com a empresa
responsável pelas barragens. “A conversa com a empresa foi animadora, mas não
devemos ficar iludidos com boa vontade. O que vai garantir as conquistas será o
avanço da organização dos atingidos e a construção coletiva das lutas populares
como este acampamento. Foi por causa do acampamento Silvio Ziquita que a
empresa esteve aqui” – declarou Thiago Alves, um dos coordenadores do MAB –
Movimento dos Atingidos por Barragens.
Sequelas
O proprietário Gualberto Clemente reclama a indenização devida pelos transtornos provocados pela construção da barragem em suas terras (Foto: Senisi Rocha) |
Em novembro de 2010, um relatório foi aprovado pelo Conselho
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ligado à Secretaria Especial de
Direitos Humanos da Presidência da República, que constata a violação dos
direitos humanos provocados com as obras das hidrelétricas.
O acampamento, denominado Silvio Ziquita, foi erguido às
margens do lago de Emboque. Ele recebeu este nome em homenagem a um atingido
pela barragem que se enforcou, segundo amigos e parentes, devido à intensa
pressão da empresa para que ele abandonasse suas terras. Um memorial foi
construído no acampamento para lembrar os inúmeros trabalhadores vítimas dos
alagamentos.
O INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – esteve no acampamento, na tarde de terça-feira, 27, cadastrando as
famílias que participavam do protesto e não possuem terra.
Nossa reportagem pode conhecer melhor a história do
agricultor Gualberto Clemente Pereira, de 54 anos e pai de três filhos. Ele,
que chegou a trabalhar na construção de uma das barragens, há uma década e
meia, tenta receber uma indenização justa pelas terras alagadas. Muito
emocionado, Gualberto contou que recebeu apenas cerca de um mil reais pela
perda de suas terras, o mesmo que receberam seus nove irmãos. Além da parte
mais produtiva da propriedade, sua casa também foi coberta pelas águas. Hoje,
sustenta a família como diarista na redondeza. Os três filhos, por falta de
opção de emprego, foram morar em Belo Horizonte.
Membros do acampamento às margens da barragem (Foto: Senisi Rocha) |
Com informações e imagens de Senisi Rocha