Polícia liberta jovens que viviam em cativeiro
O local onde as irmãs viviam não oferece condições para uma vida digna (Foto: Eduardo Satil) |
O inquérito policial teve início a partir de uma ocorrência
feita pela Polícia Militar, que recebeu a denúncia de uma assistente social do
Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), informando
sobre a situação de maus tratos, abandono de incapaz e cárcere privado das duas
jovens. Com as primeiras informações, a equipe da Delegacia de Crimes Contra a
Mulher obteve a informação de que, as duas moças eram portadoras de paralisia
cerebral e física. No entanto, a mãe saia para pescar e não se preocupava com
as filhas.
Sensibilizada com a precariedade do local e a falta de
atenção dos familiares, a delegada Lujan Pinheiro passou um bom tempo debruçada
sobre o inquérito, para reunir provas necessárias e solicitar à Justiça o
Mandado de Busca e Apreensão na residência. Durante a fase de investigação, a
delegada Lujan Pinheiro descobriu que as jovens não se alimentavam, não tomavam
medicamentos e, a mãe sequer tinha a preocupação de estar ao lado delas para
oferecer pelo menos o necessário. “Ninguém da família se importava com as
moças, que ficavam cerceadas até de frequentarem a APAE para receberem o
acompanhamento. Até o próprio irmão que morava próximo, parecia achar aquela
cena "tenebrosa" como algo bastante normal”, conta a delegada Lujan
Pinheiro, bastante sensibilizada com o que pôde acompanhar no local, que
parecia uma pocilga.
Ação participativa no resgate
Delegada Lujan Pinheiro (Foto: Eduardo Satil) |
Na última quinta-feira, policiais civis acompanhados das
assistentes sociais Adriana Salazar e Gleicione Póvoa Garcia foram ao local, a
fim de cumprir o Mandado de Busca e Apreensão. Também contaram com uma equipe
do Corpo de Bombeiros, para fazer a locomoção das duas jovens, que sequer
conseguiam mobilidade para chegarem até a rua.
No momento em que o trabalho era realizado, até mesmo os
policiais acostumados com cenas chocantes não conseguiram conter as lágrimas. A
mãe das duas jovens libertadas do cativeiro, M.J.P.S. de 51 anos, não estava no
momento. De acordo com a delegada responsável pelo inquérito, a mulher só deu
falta das filhas 24 horas depois, quando já estavam internadas no Hospital
Cesar Leite. “Ela saia para pescar, voltava à noite e sequer preocupava com o
estado deplorável das filhas. Elas serão encaminhadas para o Asilo São Vicente
de Paulo. M.J.P.S. foi indiciada pela Polícia Civil e denunciada pelo
Ministério Público por cárcere privado, abandono de incapaz e maus tratos”,
cita a delegada.
Ela chama a atenção para a participação de toda a sociedade,
no sentido de estar atenta para casos como esse ocorrido na Rua da Caixa
D'agua-Bairro Santa Luzia. Lá, muitas pessoas sabiam do que se passava, outros
percebiam o abandono por parte da família, mas ninguém tomava atitude. “O dever
de proteção é do Estado, mas todos podem participar e evitar que mais pessoas
continuem sofrendo, sendo cerceadas de sua liberdade”, ressalta a delegada. A
população poderá estar contribuindo com doações, para que elas possam ter
conforto necessário a partir de agora e convivência com outras pessoas.