Golpe do 'milionário' foi parar no Fantástico
O Golpe do Milionário em Matipó foi divulgado no Fantástico deste domingo (Foto: fantastico.globo.com) |
(reportagem extraída do Fantástico on line em 05/04/2010) O Fantástico conta a história de um "milionário". Cercado de seguranças, posando de bacana, ele mudou a vida de muita gente na pequena cidade de Matipó, em Minas Gerais, só que o tal ricaço tinha um segredo e, por esse segredo, ninguém esperava. (A história foi amplamente divulgada na semana passada em vários portais da região).
“Eu ouvi falar que ele tinha ganhado na Mega-Sena”, conta o motorista Dilson Martins. “Achei que ele tinha ganhado, ficava andando de carro pra lá e pra cá”, diz o taxista Leonardo Alves.
Era a prosa que mais se ouvia entre 17 mil habitantes de Matipó. “Ele ganhou na Mega-Sena, ganhou mesmo. Está comprando fazenda, está comprando não sei o quê, e a notícia se espalhou”, afirma Gismar Reis, ex-segurança do “milionário”.
O sortudo tinha até nome de artista: Elton John. Pelo menos, é assim que José Jorge de Jesus gosta de ser chamado. Funcionário da prefeitura de Matipó, ele contou para todo mundo que ganhou a bolada no dia 28 de novembro passado. “Ele falou para mim que tinha ganhado R$ 23 milhões”, explica Milton Vieira, ex-assessor do “milionário”.
E o novo milionário punha banca de gente importante. “A minha missão era chegar, entrar, revistar o lugar e ver se está tudo tranquilo, para ele entrar depois”, conta Gismar Reis.
Ele só andava acompanhado de seguranças. Nove pessoas passaram a trabalhar como assessores do novo “milionário”. “Eu ganhava um salário e ele me ofereceu R$ 2,5 mil por mês, de carteira assinada”, lembra Gismar.
Milton vendeu até a loja de bicicletas para agarrar a oportunidade. “Inclusive, ele falou comigo que a gente ia mudar para outra cidade, Ipatinga, e que ia comprar até os móveis pra gente”, dizO novo “milionário” também comprou fazenda. Chegou a negociar uma casa de luxo e uma loja de veículos pelo valor de R$ 1,68 milhão. Tudo assinado por ele e registrado em cartório.
Só faltava um carrão. Ele foi à concessionária seis vezes, sempre acompanhado do motorista e de vários seguranças. Escolheu um dos carros mais caros, com o preço de R$ 103 mil. Prometeu pagar em dinheiro vivo, mas pediu um prazo.
“O dinheiro, segundo ele, estava aplicado e tudo mais. Eu acho que a aplicação ia render pra ele cerca de R$ 90 mil por mês. Por isso, que ele não tinha trago o dinheiro, porque se ele tirasse antes da hora ele ia perder a aplicação”, justifica o vendedor Losardo Siman.
Durante três meses, todas as despesas teriam sido pagas pelos funcionários de Elton John, enquanto o tal “milionário” não colocasse a mão no prêmio.
O dia 29 de março seria o vencimento da aplicação bancária, quando todos iriam receber. Na véspera, eles se reuniram nas fazendas negociadas. O churrasco seria uma confraternização com as famílias, afinal, no dia seguinte, na segunda-feira, o tão prometido dinheiro finalmente chegaria. E debaixo de uma árvore, ele fez um discurso emocionado que durou mais ou menos 20 minutos.
No dia seguinte, a caminho do banco, Elton John teria simulado um desmaio. Chegou a ser levado para o hospital, mas foi liberado, em seguida. Na porta do banco, veio a notícia.
Nem dinheiro, nem milionário. José Jorge de Jesus sumiu do mapa. O tenente Jorge Roberto Marcos, da PM de Minas Gerais, lembra quando a polícia o encontrou: “ele falou que ganhou no dia 29 de novembro. Nós começamos a pesquisar no sistema e descobrimos que nessa citada data o prêmio da Mega-Sena acumulou”.
Segundo a polícia, ele chegou a ser preso, mas foi liberado por falta de provas. Ele teria dito em depoimento que também foi vítima de um golpe: recebeu uma mensagem por celular que tinha ganhado na Mega-Sena e começou a gastar por conta.
O Fantástico foi até é a casa do Elton John para falar com ele, mas não tinha ninguém no local. Matipó ainda tenta entender o que aconteceu.
“Eu não acredito que ele fez isso com a pessoa que era o melhor amigo dele”, afirma Milton Vieira. “Eu acho que a mentira que ele contou foi tão bem bolada que ele mesmo acreditou”, diz o vendedor Losardo Siman.