domingo, 27 de junho de 2010

Prefeitos confirmam Dilmasia

(Foto: Reprodução)
(Reportagem extraída do O Tempo online em 27/06/2010) Quatro anos depois a história parece se repetir. Prefeitos mineiros - de todos os partidos - ensaiam apoio aos tucanos na esfera regional e aos petistas em âmbito nacional. Em 2006, o fenômeno foi apelido de Lulécio, uma alusão ao voto casado no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no então governador Aécio Neves. Em 2010, mudou-se a nomenclatura, mas a essência continua a mesma: os adeptos do Dilmasia querem a eleição da ex-ministra Dilma Roussef (PT) à Presidência da República e a reeleição do governador Antonio Anastasia (PSDB). Quem garante a nova versão do fenômeno é o prefeito de Salinas, na região Norte de Minas, José Prates (PTB), que em 2006 encabeçou o Lulécio. "O movimento começa a ganhar força e pode decidir as eleições não só em Minas, mas no país", diz.
Não raro as decisões dos prefeitos ignoram acordos partidários articulados nacionalmente. "Não há nenhum crime nisso", opina José Prates. "O sentimento popular transcende a fidelidade partidária", complementa. O prefeito de Pedro Teixeira, na Zona da Mata, Idílio Moreira (PTB), acha que tem o "compromisso de apoiar quem considera melhor, mesmo que, eventualmente, o partido seja contrariado". Idílio é um dos que engrossam o Dilmasia.
Entre os adeptos do movimento que já esperam punição do partido está o prefeito de Tiradentes, na região Sudeste de Minas, Nílzio Barbosa (PMDB). "Aguardo a reação do PMDB, mas tenho uma dívida de gratidão com o ex-governador Aécio Neves e vou pedir votos para Anastasia", declarou.
Segundo o presidente da Associação dos Municípios do Vale do Aço (AMVA) e prefeito de Mesquita, José Euler (PPS), o movimento tende a crescer. "Todos os municípios da nossa Associação já manifestaram apoio ao Anastasia e, ao menos, dois deles declararam que vão votar na Dilma. Muitos ainda estão indecisos, mas os adeptos da Dilma podem crescer", afirma o prefeito, admitindo que o Dilmasia atingi prefeitos de todas as siglas.

Até do PT

O Dilmasia não é sustentado somente por partidos que apoiaram Aécio Neves em Minas e Lula no âmbito nacional na eleição passada. Alguns prefeitos petistas vão ignorar a aliança estadual entre PT-PMDB e apoiar Anastasia. Temendo represálias do partido, eles preferiram não serem identificados, mas um deles declarou que "um novo projeto no governo estadual iria suspender vários programas que estão sendo muito importantes para a região". Oficialmente, o PT nega a existência do movimento. O presidente do partido em Minas, deputado federal Reginaldo Lopes, declarou, em entrevista para O TEMPO que nenhum filiado do partido apoiaria a iniciativa.
A continuidade de programas também é justificativa para o Dilmasia de acordo com um prefeito do PTB, que preferiu não ter o nome citado. "O que temos de levar em conta é a população do nosso município. E considero que tanto o projeto estadual quanto o federal precisam de continuidade".

Projeção

Centenas. O prefeito José Prates avalia que o Dilmasia deverá ter amplitude maior do que a alcançada pelo Lulécio, em 2006. Ele aposta na adesão de centenas de prefeitos mineiros ao movimento neste ano.

PT reage ao movimento e promete punições

Para tentar justificar a proximidade de prefeitos de sua base com o governador Antonio Anastasia (PSDB), o PT acusa a gestão estadual de usar de populismo ao assinar convênios, às vésperas da eleição, liberando recursos para as prefeituras. “Essas assinaturas de convênios são um atentado à democracia. O governador está usando o cargo público para fazer campanha política”, disparou o presidente do PT mineiro, deputado Reginaldo Lopes.
Anastasia rebateu, dizendo que vai aproveitar até 30 de junho, data limite permitida pela legislação eleitoral para a formalização de convênios, para fazer os contratos com os prefeitos. No total, o governo de Minas já assinou parcerias com 781 municípios, somando investimentos de R$ 526,7 milhões, desde que Anastasia assumiu o governo em lugar de Aécio Neves.
Em contrapartida, o PT resolveu adotar medidas de punição diante de qualquer apoio de filiados do partido à candidatura tucana. A Secretaria de Assuntos Institucionais do partido já notificou o prefeito de Itinga, Charles Ferraz (PT), que no mês passado defendeu o voto em Dilma Rousseff e em Anastasia (PSDB). O prefeito de Itinga declarou seu apoio ao Dilmasia em evento para assinatura de convênio com o governo, na Cidade Administrativa.

Interesses municipais superam alianças formais

Muitos prefeitos que ainda estão indecisos quanto aos apoios nas próximas eleições garantem que o que vai motivar a definição é a realidade dos municípios e não os acordos partidários. Alguns deles admitem aderir ao Dilmasia.
É uma possibilidade que ainda estamos discutindo, mas devemos ter uma definição apenas no começo do próximo mês”, disse o prefeito de Prata, no Triângulo, Luiz Roberto Vilela (DEM).
O prefeito de Joanésia, no Vale do Aço, Denílson de Andrade de Assis (PTN), também considera a adesão. “Decidimos apoiar o Anastasia para o governo do Estado e estamos estudando o apoio para o governo federal. A Dilma é um dos nomes fortes”, disse.
Começo. Em 2006, o prefeito de Salinas, José Prates, surpreendeu o PT ao assumir publicamente seu apoio à reeleição do governador tucano Aécio Neves. Na época, ele dizia que o povo estava “diante das vanguardas” e batizou de “Lulécio” o que considerou um clamor popular do povo mineiro pelas reeleições de Lula e Aécio.
Prates chegou a visitar a residência oficial do governador de Minas para entregar um manifesto, com assinatura de 19 prefeitos, em que oficializava o apoio. A rebeldia valeu ao prefeito a expulsão do partido.

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