Cafeicultores de toda a região paralisam rodovias BR-262 e BR-116 por seis horas em Realeza
Centenas de produtores estiveram presentes em Realeza para protestarem contra a política do café (Foto: E. C. Sette / TEMPO+) |
Realeza - Sindicatos e produtores de café de diversas cidades da região realizaram uma manifestação no trevo do entroncamento das rodovias BR-116 e BR-262 no distrito de Realeza. De 09 da manhã até às 15 horas eles paralisaram as duas estradas impedindo a passagem de todos os veículos, causando grande retenção de automóveis, ônibus e caminhões que transitavam pelas duas rodovias federais.
Sindicatos de produtores e pequenos produtores de várias cidades como Manhuaçu, Manhumirim, Alto Jequitibá e até mesmo Muriaé estiveram presentes nesta manifestação, protestando contra o baixo preço do café e da falta de políticas do governo para remunerar melhor o segmento, além de redução dos impostos sobre os insumos, que não está permitindo que a classe possa investir na lavoura para a próxima safra.
A manifestação foi pacífica e contou com a compreensão de boa parte dos usuários das duas rodovias, que apesar dos transtornos enfrentados entendiam que se tratava de uma reivindicação justa. Para impedir o trânsito e também como forma de protesto pelo baixo preço do produto, os manifestantes colocaram sacas de café no asfalto e atearam fogo.
“Este é um momento histórico para a agricultura familiar e para os cafeicultores, pois nós pretendemos a partir desta data criar um projeto de transformação para a nossa região e para a agricultura. Nós reivindicamos um preço justo para o café, como os praticados em 1994, quando saiu a moeda Real. Naquele período uma saca de café valia um salário mínimo. Hoje o salário mínimo vale quase R$ 700 reais e o café está sendo comercializado a menos de R$ 300 reais a saca”, defendeu Admar Soares, um dos organizadores da manifestação e presidente da Associação Agrícola Familiar do Leste de Minas Gerais, com sede na cidade de Manhumirim.
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Manhuaçu, Lino as Costa e Silva, destacou os preços altos dos insumos e o baixo custo da saca de café, que tem inviabilizado a produção em nossa região. “Esta manifestação é para mostrar a nossa insatisfação com o Governo. A carga tributária é muito alta e nós não conseguimos mais bancar as despesas, porque nós temos um custo muito alto para produzir o café em nossa região. Nem mesmo o preço de garantia promovido pelo Governo, que é de R$ 307 reais para a saca nós conseguimos alcançar. Estamos vendendo o café por R$ 240 ou R$ 250 reais a saca e estes são preços impraticáveis para o setor” disse.
Vereador de Realeza, Jânio Garcia Mendes (Foto: E. C. Sette / TEMPO+) |
Apoio político local
Além dos produtores, políticos de várias cidades, entre prefeitos e vereadores estiveram presentes em Realeza, para apoiar as reivindicações. “O Brasil está dando uma aula de democracia e tem demonstrado a sua força, sendo assim também com os produtores de café. Nós vivemos do café, já que ele é a mola mestra de nosso desenvolvimento e de nossa dignidade. Temos que chamar a atenção do Governo federal porque existem recursos, já que o Brasil gastou bilhões de dólares para construir os estádios da Copa do Mundo, que são verdadeiros elefantes brancos que não reverterão em nada positivo para a sociedade. Reafirmo que precisamos protestar porque os metalúrgicos vão às ruas protestarem e o Governo logo abaixa o preço do IPI dos carros, o setor da construção civil retrai e o Governo fomenta este setor. É por isso que a classe de cafeicultores também tem que elevar a voz e protestar”, afirmou o vereador Maurício Júnior, presidente da Câmara de Vereadores de Manhuaçu.
O vereador pelo distrito de Realeza, Jânio Garcia Mendes defendeu que outros setores da economia da região também deveriam estar ali apoiando as reivindicações dos produtores rurais, pois como comerciário ele acredita que todos dependem dos benefícios gerados na economia pela produção de café. “Tanto o comércio de vendas como o de prestação de serviços de toda a nossa região depende da produção de café. Quando os preços estão bons, todos ganham, pois vendem mais. E o setor comercial é o primeiro a sentir os efeitos negativos criados com os preços baixos. Então seria natural que esta manifestação tivesse representantes de outros setores de nossa economia também”, defendeu o vereador.
Professores da rede municipal de Manhuaçu protestam
Esta manifestação ocorrida em Realeza contou também com manifestações políticas locais através da adesão de professores da rede municipal de ensino de Manhuaçu, que aproveitaram o movimento dos produtores para exporem os problemas enfrentados pela classe no município. Elas protestam contra os baixos salários e a falta de atenção do governo municipal nas escolas e creches de Manhuaçu.
“Sabendo que viriam muitas pessoas aqui em Realeza, nós aproveitamos para apresentar os nossos problemas para a sociedade. Recentemente dez vereadores votaram a favor da corrupção em Manhuaçu, que é fomentada com o dinheiro da educação. Estamos indignados porque não possuímos condições de trabalho e nem de incentivo para a carreira. Temos uma secretária municipal que gasta o dinheiro da Educação com outras prioridades. Nós já temos uma comissão, mas ela não é recebida pelo Governo Municipal. Deste modo nós viemos para cá para que o povo possa conhecer a nossa realidade”, protestou Andreia Lima, professora do Centro de Atendimento Integral a Criança (CAIC) de Manhuaçu.
Durante as seis horas de paralização das rodovias diversas pessoas, entre autoridades, representantes de classe e produtores rurais alternaram o microfone dando a sua mensagem. Por volta das 15 horas os manifestantes se dirigiram para a região central da cidade de Manhuaçu, para realizarem novos protestos na frente do prédio do Banco do Brasil.
Em Manhuaçu
Em Manhuaçu, um grande esquema policial foi montado para deixar as ruas do centro liberadas. O reflexo foi sentido no comércio, pois muitos lojistas ficaram temerosos e chegaram a fechar as portas.
Quando o grupo chegou a Manhuaçu numa carreata por volta de 16 horas. A mobilização já estava menor. Não havendo nenhum registro de tumulto.
O movimento foi encerrado com novo ato em frente à Igreja Matriz de São Lourenço, na Praça Cordovil Pinto Coelho.
Os dirigentes Lino da Costa e Silva, Hélio Emerick, Admar Soares e Flávio Bahia deram declarações e convocaram para um novo ato na próxima segunda-feira (8). A organização da manifestação informou que não pretende reabrir o trevo em Realeza enquanto não tiverem a presença de representantes do governo e uma proposta de verdade para o setor.
(Fotos: E. C. Sette / TEMPO+) |
(Fotos: E. C. Sette / TEMPO+) |
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Com informações TEMPO+ (tempomais.com)