Professor: Ontem e hoje o profissional que forma cidadãos
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Manhuaçu - No último dia 15 o Brasil comemorou o Dia do Professor. A data é alusiva à lei instituída no período do Brasil Império, por D. Pedro I, que determinava que “em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverão as escolas de primeiras letras que forem necessárias”. Esta lei foi promulgada em 15 de outubro de 1827.
A homenagem é justa como reconhecimento da sociedade para com este profissional que forma os demais profissionais. Ele é mal remunerado e desvalorizado quando comparado a outras profissões. Porém, o professor antes de tudo, é um artista que procura dar aos seus alunos o conhecimento e a condição de se apresentarem como cidadãos no mundo.
Atualmente os professores têm um papel social maior, precisando estar mais envolvidos e engajados no exercício da profissão, pois as metodologias de ensino mudaram muito nos últimos anos. O professor deixou de ser visto como o todo poderoso da sala de aula, o detentor do saber, o dono da razão, e foi reconhecido como o instrumento que proporciona a circulação do conhecimento dentro da sala de aula. Ele é o mediador entre os alunos.
Para destacar esta data importante esta reportagem faz uma abordagem da escola pública em nossa região, do passado e do presente, ouvindo duas profissionais de ensino que educaram alunos em épocas diferentes dentro de uma mesma instituição.
Ao longo dos últimos anos não apenas a metodologia de ensino mudou, mas também a atenção do Estado para com os jovens sofreu grande alteração. Hoje o aluno recebe maior condição de estar presente em uma sala de aula. Mas isso já foi muito diferente e em um passado recente. Em entrevista com a dona Jary Coelho, ela contou como eram difíceis tanto para professores como para os alunos se manter na escola. Dona Jary é professora aposentada que lecionou entre 1962 e 1986 na Escola Estadual Dr. Eloy Werner de Realeza e na Escola Estadual Maria de Lucca Pinto Coelho em Manhuaçu, além de ter trabalhado na Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Manhuaçu.
Ela contou que nos anos 60 e 70 do século passado os governos não ofereciam tantas condições para que as crianças e os jovens pudessem estudar. Segundo ela, no distrito de Realeza, onde se iniciou nesta profissão, havia uma única edificação com duas salas de aula separadas por uma varanda que também era utilizada como uma terceira sala de aula. Quando ventava, estes alunos tinham que juntar seus materiais rapidamente e correrem para o interior de uma das outras salas de aula.
“Isso era em dias de sol, para correr da poeira ou em dias de chuvas. E para complicar ainda mais, ao lado da escola passava uma rede de esgoto ao céu aberto e eventualmente algum material escolar dos alunos caía lá dentro, ao ser jogado pelo vento. E o professor que lecionava nesta varanda tinha que chegar mais cedo para limpar o local, já que ali também era dormitório de cabritos”, contou a ex-professora.
Apesar de alguns problemas serem específicos de uma escola ou de outra, com muitas não possuindo problemas semelhantes ao qual ela passou no início de sua carreira, na grande maioria, apontou a professora aposentada, as dificuldades eram as mesmas. Ao contrário do que acontece hoje, os alunos tinham que comprar todos os seus materiais didáticos e não havia transporte escolar. Alguns alunos que residiam na zona rural andavam a pé por até oito quilômetros para poderem chegar à escola. Não havia merenda e nem mesmo banheiro. Não havia mimeógrafos ou qualquer outro meio para que o professor aplicasse exercícios ou provas. “Cada aluno era obrigado a possuir dois cadernos de cada matéria. Pois o professor tinha que levar um destes cadernos para sua casa e passar todos os exercícios em um por um. Isso tomava muito o tempo do profissional fora de seu período de trabalho, fazendo de sua casa uma extensão da escola e sem receber a mais por isso”, explicou dona Jary.
Mas ela destacou que apesar de todas as dificuldades, existia uma autoridade dentro da sala de aula que permitia aos alunos se formarem como cidadãos que respeitavam os mais velhos. Hoje ela ressente disso, pois o que se vê através da mídia, é que o professor se tornou um refém do sistema que inibe a sua autoridade.
As dificuldades apontadas pela ex-professora é coisa do passado. Hoje os governos desembolsam vultosas quantias provenientes de suas arrecadações para a Educação. Os alunos recebem materiais didáticos custeados pelo Governo, recebem transporte escolar gratuito. A alimentação também melhorou muito. Os alunos não são mais obrigados a levarem consigo uma merendeira com leite e pão para se alimentarem durante o horário do recreio. A própria metodologia escolar alterou bastante desde a retomada da democracia na segunda metade da década de 1980.
Porém, os profissionais atuais questionam os inúmeros programas oferecidos pelos governos. Para eles muitos governantes estão mais preocupados em fazerem políticas publicitárias sobre os programas implantados, que possa dar retorno nas urnas, do que propriamente os resultados positivos que eles possam trazer.
A reportagem ouviu também Adriene Pimentel Vieira. Ela é professora há 26 anos e atualmente leciona História na Escola Estadual Eloy Werner. Adriene foi aluna de dona Jary e é sua sucessora na mesma matéria. Ela aproveita seus conhecimentos dentro da própria área em que atua para fazer uma avaliação do ensino atual. Para a professora, não apenas a metodologia de ensino mudou, como a própria formação do profissional também sofreu grande alteração. Antes era necessário o curso de magistério, que preparava o professor para a profissão.
“No início, a educação exigia muito do aluno na questão da leitura, da escrita e da interpretação. Mas ainda na faculdade já entendíamos que com as mudanças que estavam ocorrendo no país, a escola também deveria sair daquele estilo formal. Começamos a trabalhar a educação construtivista”, disse Adriene.
Mas a professora destacou os problemas enfrentados com a implantação desta nova metodologia. Ela foi imposta pelo Estado, porém sem orientar o professor para estas mudanças. Isso fez com que a Educação de um modo geral caísse muito o nível nas escolas públicas. Houve também a alteração da terminologia, extinguindo o antigo 1º e 2º grau e criando o ensino fundamental e ensino médio, mas sem com isso melhorar a qualidade do ensino.
“Existem alunos do ensino médio que não sabem nem mesmo fazer uma interpretação de texto. O sistema se tornou um facilitador do aluno para passar de ano com os programas desenvolvidos para este fim” destacou.
Mas Adriene reconhece que as novas tecnologias que se tornaram acessíveis aos jovens tem permitido que eles pudessem ter maior acesso à informação e com isso apresentem um diferencial positivo no aprendizado. Hoje o jovem possui uma visão mais ampla do mundo. E antigamente os alunos recebiam uma educação imposta pelos livros, que eram determinados pelos governos de acordo com os seus interesses, como aconteceu durante o regime militar.
A professora faz coro com a maioria dos demais colegas de trabalho que acreditam que a escola moderna precisa se adaptar às novas mídias para poder alcançar os alunos. É um grande desafio como tem sido ao longo dos tempos. Mas com o advento da internet a educação precisa se reciclar em períodos mais curtos de tempo, mas dando condições dignas de trabalho ao professor, com salários que permitam ao profissional se dedicar integralmente à sua função, que é educar.
Com informações TEMPO+ (tempomais.com)