Aproximação de macaco barbado surpreende moradores de Realeza
Barbado permaneceu durante todo o dia próximo à barraca de pamonha (Foto: E. C. Sette / Diário de Manhuaçu) |
Realeza - As duas matas existentes dentro do perímetro urbano de Realeza contemplam a comunidade não somente com uma temperatura amena, conhecida em toda a região. Elas sempre propiciaram aos seus moradores o convívio com pequenos animais da fauna silvestre da Mata Atlântica, entre eles, algumas espécies de macacos. Mas um histórico de caça destes animais nas primeiras décadas de formação da comunidade impediu a aproximação destes primatas com a área urbana. Isso até a manhã de sexta-feira (1), quando Maria de Lourdes Oliveira Pereira, proprietária de uma barraca de pamonha localizada às margens da rodovia BR-262 se deparou com um macaco barbado, ou bugio, a poucos metros dela.
O primata parecia estar bastante interessado nos alimentos à base de milho que eram oferecidos pelo seu estabelecimento comercial, tentando se tornar um cliente incomum. O mais incrível era a despreocupação do animal em se aproximar do ser humano. E em pouco tempo se transformou em sensação para os moradores do lugar e principalmente para as pessoas que transitavam pela rodovia, que estavam muito menos acostumadas com a existência de macacos na região. Rapidamente se formou uma pequena concentração de pessoas no local, com câmeras digitais e celulares, registrando o acontecimento.
Até este dia, nenhum dos moradores de Realeza havia presenciado uma aproximação destes primatas, apesar de estarem acostumados com seu grito peculiar nas matas e já terem presenciado a travessia de alguns pelas duas rodovias que cortam aquele distrito, ao tentarem passar de uma mata à outra. Houve uma tentativa de Maria de Lourdes em cativar o animal e oferecer algo para ele comer, mas ela foi alertada por um morador sobre o fato de o primata passar a visitar em grupo com frequência a barraca e danificar os produtos que vende ali.
Motivos para aproximação
Biólogo e especialista em primatas, Carlos Leandro (Foto: Divulgação) |
A reportagem esteve no local e registrou a visita do animal. E para encontrar explicações para aquela aproximação, procurou o biólogo Carlos Leandro de Souza Mendes, que é graduado pela UEMG (Universidade Estadual de Minas Gerais), Especialista em Biologia Geral pela UFLA (Universidade Federal de Lavras) Mestre em Ciências Ambientais pela UEMG. Carlos Leandro é professor da Faculdade do Futuro em Manhuaçu (FAF) e da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu (FACIG) e Biólogo do projeto Primatas de Minas Gerais.
Para o biólogo, uma série de fatores podem ter provocado a aproximação do bugio (<em>Alouatta guariba clamitans</em>), entre elas a possibilidade dele ser um macho jovem que foi expulso do grupo pelo macho dominante, ou um macho velho que foi expulso por um indivíduo jovem que tomou o seu lugar. Carlos Leandro informou também que existe a possibilidade da escassez de alimentação em seu habitat natural, que pode ter forçado a procura por novos alimentos, já que o aroma dos produtos ofertados na barraca possa ter agradado seu olfato apurado.
“A dieta do barbado é basicamente de frutos, folhas com poucos insetos e tem poucas proteínas, então eles são animais lentos naturalmente, diferente de outros primatas que correm muito. Dificilmente a gente chega perto de um grupo de barbados e eles fogem e o fato dele estar isolado reforça a tese dele ter sido expulso do grupo. Um indivíduo expulso do grupo sai à deriva, chegando até mesmo a andar pelo chão à procura de outros lugares, sendo que os primatas não gostam muito disso. E casualmente ele encontra uma árvore e ali passa a ser um refúgio momentâneo para ele dar uma descansada e até mesmo se abrigar de alguns animais que poderiam mata-lo, como alguns cachorros”, explicou o biólogo.
Mitos e verdades
O barbado é um animal típico do bioma da Mata Atlântica e recebe este nome devido uma protuberância do osso hioide que é muito volumoso nesse gênero e coberta por sua pelagem, sendo maior na mandíbula e lados da face, formando uma barba. Esse osso é bem maior nos machos e funciona como uma caixa de ressonância, o que permite uma vocalização bem desenvolvida, embora com pouca variedade de sons.
“Devido a este osso houve um histórico de caça muito grande no passado. As pessoas caçavam o barbado porque havia um mito aqui na região de quando uma criança tinha dificuldade em falar, ela deveria tomar água no hioide do barbado. Isso levou várias pessoas a caçarem o barbado justamente por causa deste osso”, contou o professor.
Barraca está localizada entre duas rodovias federais em Realeza (Foto: E. C. Sette / Diário de Manhuaçu) |
Existe uma afirmação antiga entre a população que reside em áreas onde exista a concentração de grupos de barbados, como é o caso de Realeza, de que ele está chamando a chuva quando começa a gritar. Carlos Leandro explica que existe certa verdade neste dito popular.
“É engraçado, mas existe certa lógica, já que o barbado consegue sentir muito bem a umidade do ar. E quando a umidade é maior há uma melhor propagação do som. O barbado é um animal que marca seu território com sua vocalização, ou seja, ele evita que outro grupo invada ali pela sua vocalização. E em períodos mais úmidos esta vocalização consegue alcançar distâncias maiores. Não que ele tenha esta noção científica, mas ele vocaliza preferencialmente no período úmido que geralmente precede as chuvas”, contou o biólogo.
O barbado visto próximo á barraca de pamonha em Realeza chegou naquele local por volta das 8h30 e foi embora somente no final da tarde daquele dia.
Com informações do jornal Diário de Manhuaçu