Chuvas provocam novos deslocamentos de terra em Realeza
Início da Rua Letícia Coelho Sette (Foto: E.C.Sette / PR) |
As fortes chuvas que estão caindo na região nas últimas semanas
trouxe de volta um drama vivido por inúmeras famílias residentes no Bairro
Sagrada Face, no Distrito de Realeza, em Manhuaçu. O bairro,
que foi criado em meados dos anos 90 do século passado, começou a apresentar
problemas de deslocamento de solo por volta de 2003. Desde então, os moradores
convivem com casas e ruas inteiras que são engolidas pelos deslocamentos que
ocorrem nos períodos de chuva.
Nos últimos dias, a Rua Letícia Coelho Sette voltou a
apresentar aumento nas rachaduras. Esta rua era a terceira paralela à rodovia
BR 116, quando o bairro foi criado. Hoje ela é a única neste sentido no bairro,
pois as duas ruas logo abaixo desmoronaram em 2003.
Vininha, Coordenadora da Defesa Civil em Manhuaçu, durante visita ao Bairro Sagrada Face (Foto: E.C.Sette / PR) |
Com os novos deslocamentos iniciados neste período de
chuvas, cinco famílias receberam orientações diretas da Defesa Civil, que
estava no local, para abandonar suas casas. A revolta tomou conta dos afetados
diretos e indiretos, que reclamam da possibilidade de ficarem ilhados no
bairro, sem ter acesso às saídas que vão cedendo.
A coordenadora municipal da Defesa Civil Maria do Carmo
Nacif (Vininha) falou sobre os riscos da área. “Houve intervenção por parte do
Governo Federal, através do DNIT, mas não se mostrou eficaz. Esse problema vem
evoluindo há dez anos. Provavelmente teremos que remover todos os moradores das
adjacências. Há aqueles que se recusam a sair das áreas de risco por causa do
investimento feito por eles. É desejo nosso que todas as famílias vão saindo
aos poucos”, concluiu.
Sem apoio municipal em 2003
Quando os problemas começaram no ano de 2003, a comunidade
alarmada com as trincas na base do bairro, procurou as autoridades municipais
para que fosse realizado um estudo capaz de trazer soluções contra os
deslocamentos. Na época, não houve interesse destas autoridades em
ajudar a população.
O então vereador Jânio Sérvio Mendes (Catinga), disse que
por questões políticas houve omissão por parte do Governo Municipal. “Na época
eu fazia parte de outro grupo político, que fazia oposição à Administração
Municipal. O prefeito não tomou conhecimento das aflições da população”.
Jânio Sérvio Mendes (Catinga) (Foto: E.C.Sette / Arquivo PR) |
Com o laudo pronto, o DER/MG (Departamento de Estradas de
Rodagem de Minas Gerais) enviou dois técnicos para fazerem uma avaliação do
terreno e tentar solucionar os problemas, mas de acordo com o ex-vereador,
novamente houve um entrave por questões políticas. “Após a vinda dos técnicos
ficamos aguardando uma resposta por parte das autoridades. Fui inúmeras vezes
até Belo Horizonte, mas nunca havia respostas sobre qual ação que seria tomada
e os deslocamentos aumentavam cada vez mais. Então em uma oportunidade,
convoquei alguns membros da comunidade e montamos uma comissão que seguiu até a
Capital em busca de respostas. Foi quando ouvimos dos técnicos que o órgão
estadual não poderia fazer nada porque havia ordem vinda da Prefeitura de
Manhuaçu para que não fôssemos atendidos”, explicou Catinga.
O resultado foi que ao longo dos anos duas ruas e dezenas de
casas deixaram de existir. Ainda de acordo com Catinga, somente a partir do
Governo de Sérgio Bréder e, posteriormente com Adejair Barros, a comunidade
passou a contar com o apoio municipal.
Processo na Justiça Federal
Por volta de 2005 o DNIT (Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes) decretou estado de emergência no local. E
através de estudos, ficou acertado que seria realizadas várias obras de
infraestrutura para solucionar os problemas. Entre as obras estava o projeto de
se construir mais de 400 metros de drenos para conter as infiltrações no solo. A
obra toda estava orçada em quase R$ 7 milhões, o mesmo valor que se utilizou
para construir o aeroporto de Santo Amaro de Minas. Mas inexplicavelmente o
dinheiro acabou antes destes drenos serem construídos.
Por conta disso, Catinga alegou que o problema do bairro
segue numa demanda judicial desde 2003. “O promotor de Justiça da época, Sergio
Faria, entrou com Ação Civil Pública que foi apresentada na Justiça Federal em
Ipatinga. Estivemos na Justiça Federal, vieram agentes apurar e vários
engenheiros. Fizeram relatórios e exigiram providências. Foi dado um prazo ao
DNIT para apresentar um relatório completo e uma obra que será executada. Temos
notícia que estão elaborando um novo projeto, mas achamos um absurdo a demora
com que eles fazem”, argumentou.
O processo segue na Justiça Federal em Manhuaçu, pois as
obras realizadas pelo DNIT apenas agravaram ainda mais os problemas de
deslocamentos de solo. “É possível perceber a olho nu e também através de
laudos realizados pela Drª Marta, geógrafa do Ministério Público e também pelo
engenheiro Nadson, que a obra não realizada é hoje a grande responsável pelos
novos deslocamentos”, concluiu Catinga.
Acompanhe nas imagens abaixo a evolução dos deslocamentos na
Rua Letícia Coelho Sette que vêm ocorrendo nos últimos sete dias.
Foto tirada em 04 de janeiro de 2012 (Foto: E.C.Sette / PR) |
Foto tirada em 05 de janeiro de 2012 (Foto: E.C.Sette / PR) |
Foto tirada em 10 de janeiro de 2012 (Foto: E.C.Sette / PR) |
O início do deslocamento na Rua Letícia Coelho Sette em 05 de janeiro de 2011 (Foto: E.C.Sette / PR) |
A mesma rachadura 11 dias depois, em 16 de janeiro de 2011 (Foto: E.C.Sette / PR) |
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