terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Chuvas provocam novos deslocamentos de terra em Realeza


Início da Rua Letícia Coelho Sette
(Foto: E.C.Sette / PR)

As fortes chuvas que estão caindo na região nas últimas semanas trouxe de volta um drama vivido por inúmeras famílias residentes no Bairro Sagrada Face, no Distrito de Realeza, em Manhuaçu. O bairro, que foi criado em meados dos anos 90 do século passado, começou a apresentar problemas de deslocamento de solo por volta de 2003. Desde então, os moradores convivem com casas e ruas inteiras que são engolidas pelos deslocamentos que ocorrem nos períodos de chuva.
Nos últimos dias, a Rua Letícia Coelho Sette voltou a apresentar aumento nas rachaduras. Esta rua era a terceira paralela à rodovia BR 116, quando o bairro foi criado. Hoje ela é a única neste sentido no bairro, pois as duas ruas logo abaixo desmoronaram em 2003.
Vininha, Coordenadora da Defesa Civil em Manhuaçu,
durante visita ao Bairro Sagrada Face
(Foto: E.C.Sette / PR)
Com os novos deslocamentos iniciados neste período de chuvas, cinco famílias receberam orientações diretas da Defesa Civil, que estava no local, para abandonar suas casas. A revolta tomou conta dos afetados diretos e indiretos, que reclamam da possibilidade de ficarem ilhados no bairro, sem ter acesso às saídas que vão cedendo.
A coordenadora municipal da Defesa Civil Maria do Carmo Nacif (Vininha) falou sobre os riscos da área. “Houve intervenção por parte do Governo Federal, através do DNIT, mas não se mostrou eficaz. Esse problema vem evoluindo há dez anos. Provavelmente teremos que remover todos os moradores das adjacências. Há aqueles que se recusam a sair das áreas de risco por causa do investimento feito por eles. É desejo nosso que todas as famílias vão saindo aos poucos”, concluiu.

Sem apoio municipal em 2003

Quando os problemas começaram no ano de 2003, a comunidade alarmada com as trincas na base do bairro, procurou as autoridades municipais para que fosse realizado um estudo capaz de trazer soluções contra os deslocamentos. Na época, não houve interesse destas autoridades em ajudar a população.
O então vereador Jânio Sérvio Mendes (Catinga), disse que por questões políticas houve omissão por parte do Governo Municipal. “Na época eu fazia parte de outro grupo político, que fazia oposição à Administração Municipal. O prefeito não tomou conhecimento das aflições da população”.
Jânio Sérvio Mendes (Catinga)
(Foto: E.C.Sette / Arquivo PR)
Catinga conta que para se providenciar um estudo geológico sobre a situação do bairro, foi preciso que a comunidade de Realeza se unisse e bancasse todas as despesas para a realização do laudo técnico que, segundo ele, ficou em mais de R$ 10 mil. “Arrecadamos entre a população da comunidade o dinheiro necessário para realizar o estudo. Então contratamos os serviços do Dr. Frederico Sobreira, geógrafo da Universidade Federal de Ouro Preto, que nos apresentou o laudo com a sondagem e pesquisa do solo”.
Com o laudo pronto, o DER/MG (Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais) enviou dois técnicos para fazerem uma avaliação do terreno e tentar solucionar os problemas, mas de acordo com o ex-vereador, novamente houve um entrave por questões políticas. “Após a vinda dos técnicos ficamos aguardando uma resposta por parte das autoridades. Fui inúmeras vezes até Belo Horizonte, mas nunca havia respostas sobre qual ação que seria tomada e os deslocamentos aumentavam cada vez mais. Então em uma oportunidade, convoquei alguns membros da comunidade e montamos uma comissão que seguiu até a Capital em busca de respostas. Foi quando ouvimos dos técnicos que o órgão estadual não poderia fazer nada porque havia ordem vinda da Prefeitura de Manhuaçu para que não fôssemos atendidos”, explicou Catinga.
O resultado foi que ao longo dos anos duas ruas e dezenas de casas deixaram de existir. Ainda de acordo com Catinga, somente a partir do Governo de Sérgio Bréder e, posteriormente com Adejair Barros, a comunidade passou a contar com o apoio municipal.

Processo na Justiça Federal

Por volta de 2005 o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) decretou estado de emergência no local. E através de estudos, ficou acertado que seria realizadas várias obras de infraestrutura para solucionar os problemas. Entre as obras estava o projeto de se construir mais de 400 metros de drenos para conter as infiltrações no solo. A obra toda estava orçada em quase R$ 7 milhões, o mesmo valor que se utilizou para construir o aeroporto de Santo Amaro de Minas. Mas inexplicavelmente o dinheiro acabou antes destes drenos serem construídos.
Por conta disso, Catinga alegou que o problema do bairro segue numa demanda judicial desde 2003. “O promotor de Justiça da época, Sergio Faria, entrou com Ação Civil Pública que foi apresentada na Justiça Federal em Ipatinga. Estivemos na Justiça Federal, vieram agentes apurar e vários engenheiros. Fizeram relatórios e exigiram providências. Foi dado um prazo ao DNIT para apresentar um relatório completo e uma obra que será executada. Temos notícia que estão elaborando um novo projeto, mas achamos um absurdo a demora com que eles fazem”, argumentou.
O processo segue na Justiça Federal em Manhuaçu, pois as obras realizadas pelo DNIT apenas agravaram ainda mais os problemas de deslocamentos de solo. “É possível perceber a olho nu e também através de laudos realizados pela Drª Marta, geógrafa do Ministério Público e também pelo engenheiro Nadson, que a obra não realizada é hoje a grande responsável pelos novos deslocamentos”, concluiu Catinga.

Acompanhe nas imagens abaixo a evolução dos deslocamentos na Rua Letícia Coelho Sette que vêm ocorrendo nos últimos sete dias.

Foto tirada em 04 de janeiro de 2012
(Foto: E.C.Sette / PR)
Foto tirada em 05 de janeiro de 2012
(Foto: E.C.Sette / PR)
Foto tirada em 10 de janeiro de 2012
(Foto: E.C.Sette / PR)

Nas imagens abaixo o mesmo ângulo da Rua Letícia Coelho Sette há um ano atrás:

O início do deslocamento na Rua Letícia Coelho Sette em 05 de janeiro de 2011
(Foto: E.C.Sette / PR)
A mesma rachadura 11 dias depois, em 16 de janeiro de 2011
(Foto: E.C.Sette / PR)
Aguarde galeria com evolução do deslocamento nesta rua nos últimos treze meses

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