Irmãos se reencontram após 52 anos de separação
Uma propriedade rural entre os
distritos de São Pedro do Avaí, em Manhuaçu e São Caetano, em Caputira, foi
palco de uma emocionante história de reencontro entre irmãos. O fato aconteceu
nesta terça-feira (13) no Córrego São Francisco, Município de Caputira. Três irmãs,
residentes na região metropolitana de Belo Horizonte em visita à sua terra
natal, descobriram o paradeiro do irmão, ao qual tinham perdido o contato no
distante ano de 1959.
As irmãs Rosa Maria Costa, de 65
anos, Divina Maria da Silva, de 57 anos e Maria do Carmo Américo, de 54 anos,
decidiram fazer uma viagem saudosista ao córrego onde nasceram e que haviam se
retirado quando ainda eram bem jovens, no início dos anos sessenta do século
passado. Elas sabiam que ainda deveriam morar inúmeros parentes no lugar.
Parentes que elas apenas conheciam através das histórias contadas por seus
pais, José Américo que era conhecido como José Grosso, e dona Laures Maria
Américo, ou dona Lurinha, ambos já falecidos. Havia o desejo das três irmãs de
fazerem esta viagem, mas foi a persistência da caçula da família, Maria do
Carmo, que fez com que as três enfrentassem a estrada. Elas vieram apenas com
duas referências sobre o local onde nasceram: a igreja Matriz de São Pedro do
Avaí e uma frondosa árvore às margens da estrada que liga este distrito ao
município de Caputira. A árvore em questão é um pé de Sapucaia, que ainda hoje
permanece majestoso às margens da rodovia. Elas sabiam que se encontrassem a
igreja, saberiam tomar o caminho até o pé de sapucaia e esta árvore estava em
frente à estrada de acesso ao seu córrego natal. Maria do Carmo deveria ter
aproximadamente três ou quatro anos de vida quando se mudou, mas ainda
recordava das brincadeiras de criança ao redor da enorme sapucaia e de entrar
em um buraco que existia ao pé da árvore. Era um desejo antigo seu de rever
esse lugar que viveu por tão pouco tempo, mas que lhe trazia grandes
recordações.
O pé de sapucaia, que embalava as lembranças de infância de Maria do Carmo (Foto: E.C.Sette / PR) |
Ela conta que antes de partir
para uma viagem ao interior do Estado do Rio de Janeiro, pediu que as irmãs
estivessem prontas, pois em seu retorno as três iriam para São Caetano. Ao retornar
de viagem foi ao encontro das irmãs e fizeram a viagem no sábado (10), tendo
sua filha Christiane Américo como motorista e acompanhante. “Quando eu fui
procura-las, elas não estavam prontas para a viagem. Elas não acreditavam que
eu estivesse falando sério. Eu aguardei que elas se ajeitassem, pois caso
contrário eu partiria somente com a minha filha”, disse Maria do Carmo.
Em São Pedro do Avaí, procuraram
informações de seus parentes, sabendo que alguns ainda moravam no mesmo
córrego.
A surpresa maior no reencontro da
família foi saberem que o primogênito, Caetano Américo, de 69 anos, já havia
quatro anos que mantinha contato com os mesmos parentes. Inclusive vindo passar
alguns natais com os familiares. Caetano partiu de sua casa ainda na juventude,
com destino ao Estado do Paraná, em busca de oportunidades melhores para sua
vida. Ele é analfabeto, o que o impedia de manter contato com os pais e irmãs. O
mesmo aconteceu com os demais membros de sua família, que foram para Belo
Horizonte e perderam o contato com a região. Ainda no sábado as irmãs puderam
falar ao telefone com o irmão. Divina, ou Didi, contou que esta simples ligação
já foi motivo de muita emoção para todas elas. Era um sonho que acalentavam, de
rever o irmão depois de tantos anos e que elas nem acreditavam que ainda
pudesse estar vivo. Um sonho que também era acalentado por uma quarta irmã,
Iolanda de Jesus, que faleceu há dois anos, aos 60 anos de idade.
Didi conta que elas tentaram por
inúmeras formas uma localização do irmão ausente. Foram à polícia e efetuaram
registro de desaparecido. Nessa oportunidade chegaram a encontrar um endereço
antigo seu, mas ele já havia se mudado e os antigos vizinhos não souberam
informar seu paradeiro. Ela tentou até mesmo um conhecido programa de rádio da
capital mineira, já famoso por promover este tipo de reencontro, mas também sem
sucesso nesta tentativa.
Caetano jamais se casou ou
constituiu família. Ele reside atualmente no Distrito de Nova Veneza, Município
de Sumaré, interior do Estado de São Paulo. Ainda durante o contato por
telefone, ele comunicou às irmãs que era para elas aguardarem sua chegada,
porque os quatro se reencontrariam no mesmo local em que se viram pela última
vez.
Sua chegada durante a terça-feira
foi marcada por uma forte emoção não apenas para os quatro irmãos, mas para
todos que presenciaram a cena.
Os irmãos permaneceram com os
parentes no Córrego São Francisco até a manhã de domingo (18), quando
retornaram os quatro juntos para Belo Horizonte, onde Caetano conheceria seus
parentes. O encontro na capital foi registrado com um grande almoço de domingo
entre família.
De acordo com Rosa Maria, seu
irmão irá ficar alguns dias na capital mineira, sendo que ela seguirá com ele
depois para São Paulo, onde ficará algum tempo lhe fazendo companhia. O desejo
das mulheres é que Caetano venda sua casa em São Paulo e compre uma em Belo Horizonte,
para viver próximo de sua família. “Foram 52 anos de afastamento, quase sem
esperanças de que pudéssemos nos rever. Agora nós não queremos mais perdê-lo de
nossas vistas”, disse ela com a voz embargada pela forte emoção. Rosa Maria
tinha 13 anos de idade quando viu o irmão pela última vez. E por ser
adolescente como ele naquela época, é a única das irmãs que guarda
maiores recordações do tempo em que ainda residiam na mesma casa.
No sábado (17), quando esta
reportagem registrou o reencontro, era possível presenciar a satisfação e a
emoção de todos eles. E nas brincadeiras e inúmeros comentários carinhosos
entre si, era possível perceber uma enorme intimidade entre os irmãos, provando
a todos os presentes que os 52 anos de afastamento seria incapaz de destruir o
amor fraternal que ainda os une.
Flagrante registrado por familiares do instante em que os irmãos se reencontraram após 52 anos de separação (Foto: Divulgação / Arquivo da Família) |
Por Everardo C. Sette
Portal Realeza
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